Repressão
Ø A repressão não seria uma forma mais simples de diminuir o problema das drogas?
É necessário tratar a questão de forma equilibrada, ou seja, reduzindo tanto a oferta por parte do traficante (mediante a repressão) quanto a procura por parte do usuário (mediante a prevenção). Uma repressão efetiva deve atingir a economia do crime organizado transnacional, ou seja, aquelas especiais associações delinqüenciais que não obedecem a limitações de fronteiras.
Quanto à prevenção, ela é fundamental, pois envolve qualquer atividade voltada para a diminuição da procura da droga. Da mesma maneira, é muito importante que haja uma diminuição dos prejuízos relacionados ao uso de drogas (para maiores detalhes, ver pergunta 2 no item Tratamento).
Ø Não seria mais fácil simplesmente impedir que os jovens tenham acesso às drogas
Se um jovem quiser experimentar drogas, vai sempre encontrar alguém que possa fornecê-las. Ainda que pudéssemos contar com todos os esforços policiais disponíveis, seria muito difícil o controle absoluto tanto da produção clandestina quanto da entrada de drogas ilegais em um país. Medidas para reduzir a oferta podem ser postas em prática, mas nunca teremos uma sociedade sem drogas.
De uma maneira geral, a experimentação de substâncias ilegais costuma ocorrer na metade ou no final da adolescência. Entre os jovens que experimentam drogas ilegais, a maioria entra em contato com o produto por meio de amigos. A maconha é a droga ilegal utilizada com mais freqüência. Por outro lado, os jovens sempre podem dar um jeito para obter drogas legais como álcool e solventes (cola, éter, benzina). Embora existam leis proibindo a venda dessas substâncias a menores de idade, elas precisam impor o respeito às normas, como exercício de cidadania.
Ø Qual a relação entre a disponibilidade de drogas (oferta) e o seu consumo (demanda)?
É certo que em situações onde o acesso às drogas é muito fácil, existe também uma tendência ao consumo descontrolado.
A situação onde a necessidade de drogas é menor corresponderia àquela onde, havendo equilíbrio dos padrões de consumo, predominaria o uso ocasional. Mas essa é uma situação intermediária difícil de ser atingida.
Ø A liberação das drogas resolveria os problemas relacionados ao uso
O acesso mais fácil às drogas tende a levar a um aumento do número de usuários experimentais e ocasionais, mas não dos dependentes. Ao contrário do que muitos pensam, as pessoas não vão se tornar dependentes de drogas somente por que elas estão mais disponíveis. Entretanto, seria ingênuo concluir que a simples liberação das drogas resolveria todo o problema. Se por um lado a diminuição da oferta não resolve a questão, por outro o aumento da oferta (liberação) não é capaz de diminuir por si só a dependência de drogas. A dependência se relaciona muito mais diretamente com os aspectos envolvidos no tipo de motivação que o indivíduo tem de consumir drogas do que com a disponibilidade dos produtos.
A experiência acumulada sobre o assunto mostra que posições mais liberais com relação às drogas permitem que o problema possa ser abordado de maneira mais eficaz. Por exemplo, em um ambiente familiar muito rígido e repressivo, um jovem teria bastante dificuldade em revelar que usa drogas e isso poderia agravar possíveis problemas correlatos já que não contaria com o apoio de familiares ou com a ajuda de profissionais.
Ø Se não é possível acabar com a oferta de drogas, o que pode ser feito?
O importante é realizar um trabalho de prevenção, ou seja, diminuir a motivação que alguém possa vir a ter de usar drogas. Ainda, um trabalho de conscientização, revelando os danos, sociais, físicos e psicológicos, causados pelo uso de drogas.
Ø Como podemos ajudar um jovem a ter uma atitude
adequada com relação às drogas?
O que os pais podem fazer é tornar-se exemplo para os filhos. A maneira como os pais lidam com a questão tem muito mais efeito sobre o jovem do que as informações que são dadas. Ou seja, o que se faz é muito mais importante do que o que se diz.
As crianças e os jovens começam a aprender o que é droga quando observam os adultos em busca de tranqüilizantes ao menor sinal de tensão ou nervosismo. Aprendem também o que é droga quando ouvem seus pais dizerem que precisam de três xícaras de café para se sentirem acordados, ou ainda quando sentem o cheiro da fumaça de cigarros... Além disso, eles aprendem o que é dependência quando observam como seus pais têm dificuldade em controlar diversos tipos de comportamentos, como, por exemplo, comer de modo exagerado, fazer compras sem necessidade, trabalhar excessivamente.
Os adultos têm sempre "boas" formas de justificar esse comportamento, mas na verdade trata-se de um modelo de comportamento impulsivo e descontrolado. E esses modelos de comportamento podem ser copiados pelos jovens na forma como se relacionam com as drogas.
Somos uma sociedade de consumidores de produtos e a maioria de nós estabelece relações complicadas com as drogas. Não é difícil encontrar pessoas que, ao menor sinal de sofrimento, de desconforto, lançam mão de um "remedinho", de uma "cervejinha", de um "cafezinho" ou de um "cigarrinho" para aplacar a ansiedade de forma quase instantânea. Esse é o princípio básico de modelo de comportamento dependente que observamos em um imenso número de adultos e pais que, sem a menor consciência do que estão fazendo, "ensinam" aos filhos, alunos e jovens em geral que os problemas podem ser resolvidos, como que por um passe de mágica, com a ajuda de uma substância.
É muito importante que os jovens compreendam, por meio de nossas atitudes, qual é a atitude adequada em relação às drogas. Esse processo de aprendizagem começa na infância e continua até o final da adolescência.
Ø Quais as razões que levam uma pessoa a usar drogas?
Muitas são as razões que podem levar alguém a usar drogas. Cada pessoa tem seus próprios motivos. Os pais não devem tirar conclusões apressadas se suspeitam ou descobrem se o filho ou filha usou ou está usando drogas. É preciso que escutem com muita atenção o que o filho ou a filha tem a dizer para poderem compreender o que está acontecendo. Entre os possíveis motivos, destacamos:
▪ A oportunidade surgiu e o jovem experimentou.
O fato de um jovem experimentar drogas não faz dele um dependente. Porém, mesmo experiências aparentemente inocentes podem resultar em problemas (com a lei, por exemplo). Um jovem que usou drogas passa a ser tratado muitas vezes como "drogado" por seus pais ou professores. O excesso de preocupação com o uso experimental de drogas pode tornar-se muito mais perigoso do que o uso de drogas em si.
▪ O uso de drogas pode ser visto como algo excitante e ousado pelos jovens.
Cabe aos adultos alertar os jovens sobre os riscos relacionados com o uso de drogas. Entretanto, muitas vezes são justamente os riscos envolvidos que podem exercer atração sobre eles. Esta é uma das críticas que são feitas às campanhas antidrogas de caráter amedrontador, que exageram os riscos.
▪ As drogas podem modificar o que sentimos. Esse poder de transformação das emoções pode se tornar um grande atrativo, sobretudo para os jovens.
▪ Muitas pessoas acreditam que os jovens acabam consumindo drogas pela influência de colegas e amigos (pressão de grupo).
Embora a "pressão do grupo" tenha influência, sabemos que a maioria dos grupos tem um discurso contrário às drogas; mesmo assim, alguns jovens acabam se envolvendo. Mais importante do que estar em acordo com o grupo é estar bem consigo mesmo. Os jovens que dependem exageradamente da aprovação do grupo são justamente aqueles que têm outros tipos de problemas (por exemplo, sentem-se pouco amados pelos pais, deslocados, pouco atraentes, etc.).
▪ O uso de drogas pode ser uma tentativa de amenizar sentimentos de solidão, de inadequação, baixa auto-estima ou falta de confiança.
▪ Mas não existe uma pressão externa para consumir drogas?
Sim, essa pressão certamente existe. Nossa sociedade tem como um de seus maiores objetivos a felicidade. O grande problema é que tristeza, descontentamento e solidão passam a ser vistos como situações a serem eliminadas, quando, na verdade, elas fazem parte da vida e devem ser compreendidas e transformadas.
Consumir drogas é uma forma de obtenção de prazer. Isso não pode ser negado. Devemos ter em mente que existem maneiras de se obter prazer cujo preço a pagar pode ser muito alto. Devemos ensinar aos jovens que a fórmula de "felicidade a qualquer preço" imposta pela sociedade aos indivíduos não é a melhor maneira de se viver.
Ø Existem sinais para identificarmos se alguém está usando drogas?
Com freqüência os pais querem saber quais os sinais que indicam que um jovem esteja usando drogas. Não existe maneira fácil de confirmar a suspeita.
Tentar identificar no jovem sinais ou efeitos das diferentes substâncias só tende a complicar ainda mais as coisas. O clima de desconfiança que se instala nessas situações prejudica muito o relacionamento entre os familiares.
É normal e esperado que os jovens tenham segredos e que dificultem o acesso de outras pessoas da família, sobretudo os pais, a questões de sua vida pessoal. Eles tendem também a experimentar situações novas, a assumir atitudes desafiantes e de oposição e até mesmo a apresentar comportamentos ousados que podem envolver riscos. Tais comportamentos constituem traços característicos de uma adolescência normal. A grande dificuldade dos pais é saber até que ponto essas atitudes e comportamentos estão dentro do esperado ou se já significam que o jovem está passando por problemas mais graves e necessitando de ajuda.
Ø Deve-se conversar com os filhos sobre o uso de drogas?
Sim, na medida em que eles se mostrarem interessados pelo assunto.
Se o uso de drogas puder ser discutido de forma adequada à idade da criança ou do adolescente, vai deixar de ser algo secreto e misterioso, perdendo muito de seus atrativos. Qualquer atividade vista como oculta do mundo dos pais e dos professores tende a ser vista pelos jovens como instigante e excitante.
Ø Como deve ser a informação que os pais devem dar a seus filhos a respeito de drogas?
O primeiro grande problema que se apresenta nessas situações é que freqüentemente os jovens são mais informados a respeito de drogas do que seus pais.
Quando falarem de drogas, os pais devem se basear em substâncias que eles realmente conhecem (por exemplo, álcool ou tranqüilizantes). Os pais em geral têm mais dificuldade em falar sobre drogas ilegais, mas grande parte das informações a respeito de drogas legalizadas (como álcool e tranqüilizantes) tende a ser igualmente válida para as ilegais. Seria aconselhável que os pais pudessem adquirir conhecimentos básicos sobre as principais substâncias de uso e abuso em nosso meio, para que não transmitam informações sem fundamento ou preconceituosas, como são habitualmente veiculadas em jornais, revistas, televisão, etc. Não há problema algum no fato de os pais admitirem perante os filhos o seu desconhecimento a respeito de drogas, quando for o caso. Eles não precisam ter conhecimentos detalhados para poder ajudar seus filhos.
Ø Como os pais devem exercer sua autoridade?
A maioria das crianças e adolescentes aceita a autoridade dos pais, sobretudo quando no ambiente familiar estão presentes a confiança e o afeto. Porém, à medida que o adolescente vai se desenvolvendo, a autoridade vai sendo transferida para eles mesmos até que se tornem responsáveis por suas próprias ações. Muitos pais têm dificuldades para abrir mão de sua autoridade conforme os filhos crescem, dificultando, assim, que eles possam se tornar responsáveis por si mesmos.
Ø Quando se torna impossível conversar com os, filhos, a quem os pais devem procurar?
Grande parte dos jovens é capaz de se abrir quando os pais passam a ouvir mais e falar menos. Mas quando os pais, apesar de tudo, não conseguem mais se comunicar com os filhos, devem recorrer a outras pessoas. Mas quais? Os pais, de preferência, devem procurar alguém que o jovem admire ou respeite. Pode ser um parente, um amigo da família, um professor, um padre, o médico da família ou um profissional especializado.
Ø O que pode ser feito ao se descobrir que um filho está usando drogas?
Não há uma resposta simples para essa questão. Existem muitas maneiras de se responder à pergunta. Alguns pontos devem ser destacados:
▪ Existe uma variedade muito grande de drogas.
▪ Drogas diferentes produzem diferentes efeitos nas pessoas; alguns são perigosos, outros não.
▪ Existem formas mais e menos perigosas de se consumir drogas (injetar drogas é geralmente muito mais perigoso do que usá-las de outras maneiras).
▪ A lei é diferente para cada tipo de droga (é ilegal fumar maconha).
▪ O uso de algumas drogas, como o álcool, é socialmente mais aceitável do que o de outras. Entretanto, o que é ou não socialmente aceitável depende das características da comunidade em questão – seus valores, sua cultura (o álcool não é socialmente aceitável em comunidades muçulmanas) – e não do risco que a droga representa.
▪ Cada jovem é uma pessoa diferente e única e podem ser muitas as razões pelas quais alguém se envolve com drogas. Da mesma forma, existem variadas formas de ajudá-lo a interromper ou moderar o uso de drogas.
▪ Os pais têm maneiras diferentes de lidar com um filho que esteja usando drogas. Embora alguns sejam totalmente contra o uso de qualquer droga, a maioria considera aceitável o uso de determinadas substâncias (bebidas alcoólicas, fumar cigarro). Alguns pais são tolerantes e outros se resignam com o fato de seus filhos usarem drogas.
▪ Existem várias instituições de ajuda a pessoas com problemas relacionados ao uso de drogas.
Ø Pais que usam ou usaram drogas ilegais no passado estão mais preparados para lidar com o problema?
Freqüentemente, não. O lado positivo dessa experiência é que os pais que tiveram a oportunidade de experimentar substâncias ilegais provavelmente não vão ser tão alarmistas com relação ao uso de drogas. Entretanto, se o assunto vier à tona, devem se dirigir aos filhos expressando com sinceridade tanto os momentos bons como os momentos ruins daquela época de vida, cuidando para não transmitir uma visão idealizada e "glamourizada" das drogas.
Ø Como as escolas podem colaborar na prevenção do uso indevido de drogas?
Diversas escolas têm adotado programas educativos com esse objetivo. Eles podem ser de grande ajuda aos jovens, sobretudo a partir do início da adolescência, desde que conduzidos de forma adequada. Como já foi explicado anteriormente, informações mal colocadas podem aguçar a curiosidade dos jovens, levando-os a experimentar drogas. Discursos antidrogas e mensagens amedrontadoras ou repressivas, além de não serem eficazes, podem até mesmo estimular o uso.
Ø Em se tratando de jovens que já usaram drogas, qual deve ser a atitude da escola?
De preferência, a escola deve ter algumas regras bem estabelecidas, tais como não autorizar o uso de drogas, sejam legais (álcool, fumo) sejam ilegais (maconha, cocaína), nas suas dependências. Por outro lado, seria abusivo e contraproducente a escola tomar atitudes drásticas com alunos que fazem uso de drogas (como a expulsão). A exclusão só irá diminuir as chances de os jovens serem compreendidos e seus casos tratados de forma adequada.